O BRILHO NOS OLHOS
Produção de narrativa no estilo Storytelling abordando o tema da Inclusão no Ambiente Corporativo
Naquela manhã, Larissa demorou, mais do que de costume, para se vestir para o trabalho. Olhos fixos no espelho, na expectativa de ver alguma pista que pudesse definir quem era aquela pessoa ali refletida. Desde que começara a trabalhar no escritório de uma transportadora, há dois meses, muitas mudanças a fizeram se perder de si mesma.
Larissa estava com 25 anos, e a única experiência profissional anterior havia sido no mercadinho de seus pais, onde ela ajudava a organizar as mercadorias nas prateleiras, fazer cálculos e arquivar papeladas. Seus olhos brilhavam ao observar os pais atendendo no balcão de caixa, porém, sua mãe nunca a permitiu se aproximar do balcão. Como a moça possuía deficiência auditiva, ela acreditava que os clientes não se sentiriam bem, ao serem atendidos por alguém que não poderia compreender o que eles diziam.
Foi por intermédio de uma amiga de infância, que Larissa foi contratada na transportadora. Mabele trabalhava na empresa há mais de três anos, quando o quadro de colaboradores ultrapassou os 100 funcionários, e para atender à legislação, eles precisaram contratar uma pessoa com deficiência. No momento em que soube disso, Mabele recomendou sua amiga para a função de auxiliar, no escritório.
O novo trabalho era um mundo de possibilidades para Larissa, ela começou extremamente empolgada, mas aos poucos, a dificuldade de interação neste novo ambiente, foram roubando o brilho dos seus olhos. Por mais que se dedicasse, as funções que lhes eram atribuídas, se limitavam a decorar murais, arquivar documentos e fazer impressões. Seus colegas e superiores lhe solicitavam as tarefas através de bilhetes, e, sabe-se lá se por preconceito ou desconforto, mal olhavam nos olhos dela, apenas passavam e deixavam os bilhetes em sua mesa. A única interação eram rápidos acenos de bom dia e de até logo. Todas essas mudanças levaram a garota a questionar suas capacidades. Ela sempre foi privada da convivência com as pessoas, por medo de seus pais, e talvez, pensava enquanto fazia impressões e observava seus colegas de longe, talvez eles tivessem razão afinal, talvez aquele mundo não fosse para ela.
Larissa, possuía um sentido a menos que os seus colegas, no entanto, a ausência da audição possibilitava que ela não perdesse o foco nas suas atividades, ela era ágil e assertiva em tudo que fazia. Ela também conseguia entender as pessoas pelos seus gestos e expressões, assim, era capaz de sentir o humor dos colegas e começou a tentar ajudar, quando alguém não estava bem. Cada vez que observava alguém tenso ou desanimado, a garota escrevia um bilhete motivador, dizendo o que percebia de belo no colega, aumentando assim a autoestima de todos.
Como os bilhetes não eram assinados, eles deram uma sacudida no clima dentro da empresa. Os colegas começaram a conversar sobre os bilhetes que recebiam e a questionar se seria uma ação do departamento de RH. Mabele, que já havia entendido o que estava acontecendo, não se manifestou de imediato. Quando os resultados na melhora do clima organizacional já eram bem visíveis, ela levou Larissa até uma das sócias da empresa e contaram tudo que havia acontecido. Foi uma grata surpresa para todos.
A partir daquela ação, onde Larissa deixou aflorar todo o seu instinto de amor ao próximo, que a definia, ela realmente teve a resposta do espelho. Agora, ela sabia exatamente quem ela era. E o resultado disso, foi a transferência para o setor de Recursos Humanos, onde ela passou a sugerir e gerenciar ações de relacionamento com o público interno. E com muito apoio dos gestores, iniciou sua graduação em Relações Públicas.
Muitos desafios ainda viriam, no entanto, ao aceitar suas limitações e buscar a sua vocação, Larissa conseguiu perceber, que independente dos obstáculos, somos nós que traçamos nosso destino.
E aquele brilho nos olhos? Ah, esse nunca mais saiu do rosto da garota!
Disciplina: Escrita Criativa Institucional - 2018/2 - Unisinos
Professora: Polianne Meire Espindola
Tutora: Ana Isaia Barreto